De acordo com o Dr. Marshall Rosenberg, se é da comunicação humana o ato de falar e ouvir e, se quando o fazemos de coração isso nos liga uns aos outros permitindo que nossa compaixão natural floresça, o que leva um homem a se desligar de sua natureza compassiva e se comportar de forma violenta? E, por outro lado, o que leva um homem, em situações penosas, a manter-se compassivo?
Inspirado nesses questionamentos, nas ideias de Gandhi e na psicologia humanística de Carl Rogers, nos anos setenta, o psicólogo americano Dr. Marshall, desenvolveu um modelo de comunicação que chamou de Comunicação Não Violenta (CNV). Seu interesse por novas formas de comunicação visava criar alternativas pacíficas de diálogo para amenizar o clima de violência com o qual conviveu no turbulento bairro de Detroit, onde cresceu. Dessa forma, a partir das suas vivencias pessoais, seus estudos em religião comparada e sua especialização em psicologia social, surgiu a CNV, que, em 1984, foi a razão para a criação do “Center for Non Violent Communication (CNVC)”, na Califórnia.
E que é a CNV? É um processo de comunicação que se baseia nas habilidades de linguagem, na maneira como nos expressamos e ouvimos os outros, o que facilita a percepção de nossos comportamentos e como eles nos afetam. Para isso, a CNV direciona o foco dos erros, próprios e do outro, ao entendimento mais claro das necessidades, próprias e do outro, mesmo em condições adversas, tornando os diálogos mais conscientes, claros e honestos. Dessa forma, ao substituir padrões de julgamento, rótulo e crítica e outras atitudes violentas por uma comunicação baseada em respeito, afetividade, honestidade, clareza, compaixão e atenção ao outro, tornamos as relações mais humanizadas.
Em resumo, a CNV melhora a comunicação em todos os níveis e em diferentes situações e ambientes, tais como nas escolas, nas terapias e aconselhamentos, na política, nas negociações comerciais e diplomáticas, nas disputas e conflitos de qualquer natureza e em todos os níveis, nos relacionamentos íntimos e nas famílias, proporcionando maior grau de profundidade e nas instituições e organizações, estabelecendo relacionamentos mais eficazes. A CNV atua como fator mediador, possibilitando melhor compreensão das palavras e relações profissionais e pessoais mais harmônicas.
À luz da CNV, algumas formas de comunicação são consideradas alienantes:
– julgamentos moralizadores, tais como insultos, culpa, rotulação, críticas, comparações, depreciação e diagnósticos;
– negação de responsabilidade, quando as justificativas estão ligadas, por exemplo, ao “ter que”;
– comunicação dos desejos como exigências;
– pensamento pautado em “quem merece o que”.
O processo da CNV tem quatro componentes e pressupõem que as pessoas expressem-se honestamente e recebam empaticamente através desses elementos, que são:
a. Observação: quando observamos exatamente o que está acontecendo na situação, em tempo e contexto determinado, sem julgamentos ou avaliações. Observações acompanhadas de avaliações tendem a ser recebidas como críticas e trazem resistência.
b. Sentimento: é importante fazer a distinção entre como nos sentimos diante da ação do outro, na situação específica, e como achamos que o outro reage ou se comporta a respeito ou como pensamos que somos.
c. Necessidades: é importante reconhecer qual (ais) necessidades estão por trás do que sentimos, pois o que os outros dizem ou fazem nunca é a causa dos nossos sentimentos, mas pode ser o estímulo. Para isso use a frase “sinto-me assim porque eu…”. Dizer o que precisamos ao invés de dizer o que está errado com o outro aumenta a possibilidade de atendermos às nossas necessidades.
d. Pedido: de maneira específica, com ações concretas e usando linguagem positiva, dizer ao outro o que gostaríamos dele para enriquecer nossa vida. Um pedido não é uma exigência, pois não vem revestido de julgamento, punição ou crítica caso não seja atendido.